Ale Magnere e sua letterpress surgiram na hora certa, quando estávamos definindo a nova embalagem para a linha dos nossos iSleeve de lã e couro.
Em nossa primeira conversa ficou claro o conhecimento e a paixão que esse cara tem pelos processos artesanais envolvidos neste método de impressão.
Cada vez mais a gente busca se juntar com gente assim, que transpira fascínio pelo que faz. Por isso o convidamos pra falar um pouco do seu trabalho aqui no Journal.

 

Desde a faculdade em Design Gráfico passei muito tempo em frente ao computador, porém sentia falta de fazer algo tátil, de manipular os materiais. Com isso, comecei a experimentar processos artesanais de impressão como a serigrafia, o stencil e a gravura.
Quando vi uma máquina tipográfica funcionando, com todo aquele peso do ferro fundido, o barulho do motor, um cheiro de tinta suja de anos de trabalho, me apaixonei. Então procurei uma máquina tipográfica para chamar de minha.

O processo todo demorou mais que eu esperava, porque são poucas as máquinas tipográficas que estão em bom estado no brasil. Nos anos 80, com a entrada da impressão offset (que imprime mais rápido e barato), essas máquinas ficaram obsoletas e foram adaptadas para o corte e vinco. Isso faz com que elas estraguem mesmo para a impressão.

Foi em São Paulo, num workshop que fiz de tipografia, que me indicaram um mecânico gráfico que trabalha com restaurações, o Décio Krzyzanovski Junior. Foi com ele que a busca da máquina ideal começou. Encontramos uma Catu Minerva, modelo 487. É uma máquina comum da industria brasileira - “Catu” que em tupi guarani significa “muito bom”. A reformei conforme desejava. Escolhi dos parafusos a cor da re-pintura. A tinta tem uma história especial. Gosto muito de motos e acompanho o trabalho do Michael Woolaway (Woolie), que constrói motos customizadas. Na época ele estava fazendo a “Moto Grigio” - que tem uma cor cinza escura, baseada na cor “Grigio Scuro” da ferraris antigas. Então a minha tipográfica, também foi pintada de cinza, como uma homenagem.

O processo em letterpress é escultural, traz a imagem digital ao dimensional. É com pressão e precisão que a impressão apresenta um relevo suave e entintado no papel. Dessa forma, é possível imprimir em tipos papéis que em outros processos gráficos (offset e digital, por exemplo), não seriam possíveis - como papéis artesanais, papéis especias com fibras longas e macias.

O processo todo é único e manual, feito um a um, desde a mistura das tintas à impressão. No meu ateliê - Almagrafica Letterpress - procuro o fazer bem feito, de imprimir bonito. Encontrar a simplicidade e valor no design, através da impressão, e assim criar objetos de desejo que inspirem a sua apreciação no seu nível mais elevado.