Voltar à realidade é sem dúvida uma das partes mais difíceis depois de uma viagem à Indonésia. Não que a realidade não seja boa, longe disso, mas as ondas perfeitas, a natureza em perfeita harmonia, o contato com uma cultura completamente diferente da nossa e muitos outros detalhes que eu vou contar a seguir dão a leve impressão de que tudo não passou de um sonho, um sonho bom, daqueles que a gente não quer acordar tão cedo.

Ainda meio tonto, confuso, aproveito pra escrever um pouco sobre o meu: uma passagem de vinte e quatro dias pelas ilhas de Bali, Gili Trawangan e Lombok. Afinal de contas, se existe uma boa hora pra escrever sobre um sonho, é logo que se acorda, pra que nada seja esquecido ou fique pra trás.

04/06

Capítulo I - Avoua

Malas prontas, ou melhor, mochila pronta, apenas uma Explorer com itens básicos de sobrevivência para um lugar onde apenas uma bermuda, um chinelo e uma camiseta regata já seriam o suficiente. Pra mim, a Indonésia é e sempre vai ser aquele lugar que você leva pouco e traz muito, não apenas na bagagem, mas também na cabeça.

Como de costume, toda trip começa pela cansativa parte do deslocamento. Já experimentou dar uma olhada no mapa e ver a distância entre Brasil e Indonésia? É um mundo, sem exagero. Se você, assim como eu, tem dificuldade pra dormir em meios de transporte, prepare-se pra uma longa jornada de aproximadamente 24 horas entre voos e aeroportos. Basicamente são dois longos trechos, um de São Paulo a Doha (15 horas) e outro de Doha a Denpasar (10 horas).

06/06

Capítulo II - A chegada

Bali tem inúmeras opções de destino capazes de agradar aos mais variados gostos. O mais comum deles é o Bukit, localizado na ponta da Ilha. É lá que estão as melhores ondas, as praias mais bonitas e, claro, aquele famoso “crowd" turístico que afasta os mais chegados em uma experiência local.

Felizmente, Bali é uma Ilha de vasto território, e enquanto alguns escolhem o Bukit, nós escolhemos a região de Canggu, 40km ao norte. Canggu não oferece a mesma fartura de ondas do Bukit e tampouco belas praias, mas é uma região com muita coisa boa pra oferecer, como templos, arrozais, restaurantes, cafés, beach clubs, comércio etc.

Jardins Balineses / Canggu

Surfcheck em Echo Beach / Canggu

Não é preciso ir muito longe do aeroporto pra entender que Bali passa por um grave problema de mobilidade urbana, o que explica o fato da Indonésia ser a terceira maior frota de motos do mundo, ficando atrás apenas da China e da India. Lá, definitivamente, a moto é o meio mais rápido e eficaz de se locomover. Mas antes de pegar uma moto e sair acelerando pelas ruas de Bali, lembre-se que este também é um dos meios de transporte mais perigosos. Fique ligado.

Motorizado pelos famosos arrozais de Canguu, com tudo o que eu preciso.

07/06

Capítulo III - Torbike trips

Se Canggu não oferece as tão sonhadas e perfeitas ondas indonesianas, não é preciso ir muito longe para encontrá-las. Uma das ondas mais próximas a Canggu é a praia de Keramas, famosa por suas ondas e também pelo curioso tom escuro da sua areia. O trajeto é simples e pode ser feito em apenas 45 minutos de moto (ou seja, sem trânsito). Em frente a onda está localizado o Komune Resort, que oferece uma boa estrutura pra quem deseja passar o dia por lá.

Aquilo que os surfistas chamam de direita perfeita

Mercado de Pedras / Keramas

É comum encontrar pessoas catando pedras, durante a maré baixa, para depois transformar em artesanato.

Voltando a Canggu, aqui tem a lista de alguns lugares legais que conhecemos por lá: The Lawn, Old Mans, Deus ex Machina, Pretty Poison. Logo ao lado, em Seminyak, La Favela, Da Maria, Potato Head.

10/06

Capítulo IV - O Bukit

O Bukit pode até não ser o melhor lugar pra se hospedar em Bali, mas certamente é aquele lugar que não dá pra deixar de visitar. É impossível não levar na mente a sensação de andar pela caverna de Uluwatu, descer até a praia de Padang e caminhar pelo reef de Bingin. O paraíso está logo ao lado: 1 hora de moto de Canggu ao Bukit.

Daquelas raras vezes em que um surfista perde algo indo surfar / Uluwatu

Inseparável parceira / Caverna de Uluwatu

Caverna de Uluwatu

Praia de Padang-Padang

A experiência de caminhar pelos corais de Bingin no entardecer é absolutamente transcendental. Ao final da caminhada, é possível comer em algum dos restaurantes que ficam no pé do clif. Desfrutamos de um banquete de frutos do mar com direito aos maiores camarões de nossas vidas por apenas 10 Dólares, algo em torno de 130 mil Rupias na moeda local.

Bingin

12/06

Capítulo V - Gili Trawangan

Hora de dar o próximo passo na nossa viagem, rumo a Gili Trawangan. Trawangan faz parte da Ilha de Lombok, ao lado de duas outras pequenas ilhas chamadas Gili Meno e Gili Air. É fácil bookar esse trajeto pelas ruas de Bali. A primeira parte do percurso é por terra (uma hora) e a segunda de barco (1h30min).

Artesão em Padang Bai

Padang Bai, o porto de onde saem os barcos em direção às outras ilhas, é onde a malandragem balinesa pode ser vivida no seu mais elevado nível. É comum receber oferta de ajuda por todos os lugares da ilha, seja para carregar as malas, comprar alimento, transporte, artesanato e drogas. A troca com os indonesianos é tranquila na maior parte das vezes e o jogo de cintura desenvolvido na “escola brasileira” é um skill bastante útil nestes casos.

Gili Trawangan é uma pacata ilha com 3km de comprimento, 2km de largura e não mais do que 1.500 habitantes, considerada um dos melhores lugares do mundo para mergulhar. E apreciar, é claro. Lá não existe nenhum meio de transporte motorizado, e as melhores maneiras de se locomover são carroça, isso mesmo, carroça, e bicicleta. Em menos de uma hora é possível dar uma volta completa pela ilha. A ilha de Trawangan oferece boa acomodação, comida e alguma vida noturna. Dá pra fazer tudo em dois dias, por isso, não se demore.

Gili Trawangan

Aquele tipo de imagem super comum em Gili Trawangan: Um  cavalo se banhando em mar perfeito com um vulcão ao fundo

14/06

Capítulo VI - Lombok

Dali partimos pra ilha de Lombok, um território que, em tamanho, é muito parecido com Bali, porém, menos populoso e desenvolvido quando o assunto é turismo. Lá é mais comum encontrar locais que não dominam a língua inglesa. Nestes casos, a linguagem corporal funciona muito bem.

Nosso meio de transporte Gili Trawangan / Lombok - Trajeto de 15 minutos

Faça isso 100 vezes e ficará bom nisso.

Assim como Bali, Lombok também é repleta de belezas naturais como praias paradisíacas (e desertas), vulcões, cachoeiras, cavernas e tudo que um explorador tem direito.

Difícil sair de casa com uma vista dessas

Nosso primeiro giro em Lombok foi atrás de ondas. Ao contrário de Bali, onde a maioria das praias tem acesso pelo clif, a pé, em Lombok o acesso é mais complicado, feito, na maior parte das vezes, com o auxílio de barcos de pesca. Uma pequena pausa para negociar valores (pratique isso, vai ser útil na Indonésia) e logo você estará de frente para uma onda, provavelmente perfeita e sem crowd, a bordo de um barco.

A onda de Ekas fica a 1h30m de Kuta Lombok, de van, e a 15 min, de barco. É uma esquerda de excelente qualidade.

Transport boss

Na busca pelas ondas, é comum cair em pequenos vilarejos onde rola de tudo, de rinha de galo a transporte de barco para as ondas. Na foto, indonesianas selecionando temperos

Registro inédito da que parece ter sido a primeira fogueira da história de Pantai Semeti

18/06

Capítulo VII - Back to Canggu

O crowd na ponta da ilha de Bali empurra o desenvolvimento em direção ao norte. Pegamos nossas torbikes e decidimos explorar os arrozais a fundo, rumo a região conhecida como Kediri/Tabanan. Lá conhecemos o Joshua District, um coletivo sustentável com vila, galeria de arte, estúdio e restaurante, posicionado em frente a um grande arrozal. Vale a pena dar um Google. É provável que a região de Kediri, onde está localizado o Joshua District, seja o próximo “point”, daqui alguns anos, assim como já foi Kuta, Seminyak e agora é Canggu.

Nesta região é comum esbarrar grandes espécies de lagartos e cobras pelo caminho.

Joshua Distric

Pretty Poison

O conceito de experiência está espalhada pelos estabelecimentos de Bali. Aonde quer que se vá, uma loja não é apenas uma loja, um restaurante não é apenas um restaurante, uma galeria de arte não é apenas uma galeria de arte, uma pista de skate não é apenas uma pista de skate. Tudo funciona no mesmo lugar. O Pretty Poison é um destes lugares. Lá dá pra comprar produtos autorais, assistir a shows e filmes, tomar cerveja, comer pipoca, dar uma volta de skate, fazer o que quiser.

26/06

Capítulo VII - Hora de partir

Não há tempo para mais nada e é hora de partir. Bali é um daqueles destinos não para passar, mas para ficar e viver, os momentos, o povo, a cultura. Essa é a minha segunda passagem por Bali e o sentimento que me pega na hora de voltar segue sendo o mesmo, aquela ânsia e curiosidade latente em voltar para dar mais um mergulho.