Independente do destino e do aventureiro, toda viagem tem o mesmo ponto de partida: o planejamento. É nesta fase que algumas questões fundamentais são respondidas. Bem, se duas das respostas forem “viajar de carro” e “por seis dias”, é bem provável que você não vá muito longe. Mas isso também não significa que você não vai poder viver uma grande experiência com outras línguas e culturas, principalmente se vive em um estado que faz fronteira com outros países.

Talvez este não seja o seu caso, mas é o meu.

Viver no Rio Grande do Sul tem as suas vantagens quando o assunto é este intercâmbio cultural. Você só precisa de uma Carta Verde e disposição para dirigir por algumas horas em direção ao sul, saindo de Porto Alegre, e logo chegará ao Uruguai ou a Argentina. Foi isso que eu e mais quatro amigos fizemos. O destino escolhido: Uruguai. Pela qualidade das ondas e também pela pequena quantidade de pessoas dispostas a surfa-las.

Para ter uma ideia da densidade populacional do país, o estado do Rio de Janeiro possui uma área 4 vezes menor, porém, com uma população 4,5 vezes maior. Dos cerca de 3,5 milhões de habitantes, 1,8 mora na capital Montevideu, enquanto o resto se divide entre os outros 18 departamentos que compõem o país. Curiosamente, a população de vacas é maior do que a de pessoas, com 10 milhões de animais. A carne é excelente e o assado (churrasco) o principal prato da culinária local. Cada cidadão uruguaio consome, em média, 60 kg de carne por ano, o que coloca o país como um dos líderes mundiais no consumo do alimento.

Definitivamente o Uruguai é o que podemos chamar de país natural.

Amanhecer em La Paloma

O Cabo Polônio, por exemplo, localizado na região de Rocha, é um dos lugares mais pitorescos do universo, sendo um dos poucos ainda sem acesso a energia elétrica (gerador, eólica ou solar), o que atrai a curiosidade de turistas do mundo inteiro. Lá o acesso é restrito a cavalos e carros 4x4, e nem mesmo acampar é permitido, tudo para preservar a fauna de lobos-marinhos que habita o lugar.

Cenários exuberantes, ótimas estradas, povo hospitaleiro, poucas pessoas, boas ondas e alimentação de primeira. Nada mal para um destino que fica a apenas 8 horas de distância de carro.

Começamos a nossa viagem com destino a La Paloma, uma pequena cidade de aproximadamente 3,5 mil habitantes localizada no departamento de Rocha, ao leste do país. Algumas das melhores ondas do Uruguai se encontram nesta região, como Zanja Honda, La Balconada, Los Botes, Anaconda, El Gavillan, La Aguada, La Playa del Barco e El Desplayado.

A viagem é tranquila, os cenários incríveis e as ondas não deixam por menos. Em menos de oito horas, já estávamos aproveitando aquilo que o país vizinho tem de melhor: sossego e boas ondas. Durante quatro dias, aproveitamos quase que solitários os bosques que cercam a região, assim como as boas ondas da praia de El Gavilan.

 

El Gavilan

 

Bosques de La Paloma

Surfcheck em El Gavilan

 

No quinto dia, acordamos cedo e dirigimos com destino a La Pedrera, uma cidade pacata de apenas 300 habitantes, poucos quilômetros ao norte. Durante o carnaval (considerado o carnaval mais longo do mundo, com 40 dias de festejo), turistas brasileiros e argentinos invadem o lugar para aproveitar aquele que é considerado um dos carnavais de rua mais populares do país.

Voltando ao real motivo da nossa visita, as ondas, lá o mar não oferecia a mesma condição dos dias anteriores em El Gavilan. De qualquer maneira, no Uruguai, a viagem nunca é em vão, e o visual sempre compensa.

La Pedrera

Bienvenido a La Pedrera

Os famosos alfajores uruguaios

Na volta, passamos pela Laguna de Rocha, um grande espelho d’água com aproximadamente 70 quilômetros quadrados de extensão e não mais de 1,6 metros de profundidade. A lagoa é considerada reserva natural e separada pelo mar apenas por uma fina camada de areia.

 

Laguna de Rocha

Depois de 6 dias de viagem, embarcamos de volta a Porto Alegre. É curioso como a volta do país vizinho nunca soa como um adeus, e sim um até logo. Sortudos somos nós que podemos aproveitar todas as riquezas deste país natural com a tranquilidade de sermos recebidos de braços abertos por um povo gentil e hospitaleiro.